segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um pouco da história do papel e a conservação


A conservação de informações assentadas em papel é um problema de primordial para arquivos, bibliotecas, museus, colecionadores e congêneres, responsáveis por pequenos ou grandes acervos. Apesar de, neste último quartel do Século XX, dispormos de fitas, filmes, microfomeas e outros modernos suportes para informações, o papel ainda é depositário da maioria dos conhecimentos de nossa civilização.

O homem sempre sentiu necessidade de deixar anotados seus feitos, seus sentimentos, suas vitórias, suas interrogações e respostas, sua passagem pelo mundo. Com essa finalidade, usou os mais diversos materiais: das paredes das cavernas à argila, da madeira e metal ao papiro, deste ao pergaminho e finalmente chegou ao papel.


Por volta do ano 105 da era Cristã, a China já conhecia o papel, que chegou à Europa em 1150: nesse ano, as primeiras manufaturas de papel foram instaladas em Toledo e Valença. Saindo da China, a técnica de fabricação de papel passou por Samarcand, Bagdá, Damasco, Egito e Marrocos; chegando à atual Espanha em 1150, passou para a França, Alemanha, Portugal até a Inglaterra em 1490.


Por longo tempo preterido em favor do pergaminho, o papel finalmente passou a ser bem aceito na Europa, após a descoberta da imprensa, que precisava de material em larga escala de produção. Essa necessidade podia ser satisfeita pelo papel, cuja obtenção, em comparação com a do pergaminho, era mais fácil. Denominado pergaminho de trapo ou papel de trapo, era obtido de retalhos de algodão, linho, cânhamo ou similares, os quais eram cortados em pedacinhos, colocados de molho em determinada quantidade de água e moídos até se transformarem em uma massa pastosa. Essa massa era colocada em teares formando finas camadas, que após serem colocadas entre folhas de feltro, umas sobre as outras, eram submetidas a encolamento das fibras e estendidas para secar em varais apropriados e abrigados da luz solar.

Quanto ao pergaminho, material muito usado durante a Idade Média como base para a escrita, era obtido da pele de animais novos, sendo dada preferência às cabras e aos camelos. Os couros dos animais eram lavados, depilados e esfregados com pedras-pomes até ficaram claros e bem lisos. Não se deve esquecer que, após o abate dos animais, o couro precisava ser curtido, operação um tanto demorada. Os melhores pergaminhos eram obtidos de animais retirados ainda em fase de gestação, do ventre materno. Dessa forma, com processo tão demorado, não havia maneira de expandir a escala de produção do pergaminho, como era possível fazer com o papel.

Na segunda metade do Século XX, surge o papel de fibras de madeira. A obtenção de trapos não mais atendia à demanda de papel e urgia a descoberta de outras fontes de produção. A companhia editora "Times", de Londres, premiou em 1861, como resultado de um concurso aberto em 1854, Thomas Rutledge pela obtenção do papel que não era de trapos.

Papel de polpa de madeira já havia sido obtido em 1844, por Friedrick Keller, na Alemanha, e o português Moreira de Sá, fundou, em 1802, uma fábrica que produziu papel de pasta de madeira pouco tempo depois. Tal fato não conseguiu divulgar porque a fábrica foi destruída em 1808, drante a invasão francesa. Dessa forma, considera-se 1861 a data-base para a fabricação do novo tipo de papel.


No Brasil, no decorrer do século passado, foram feitas várias tentativas para a produção do papel, mas as fábricas acabaram falindo por falta de estrutura econômica.


Os acervos de documentos brasileiros assentados em papel, até a metade do Século XX, são, com certeza, de papel de trapo, sejam eles manuscritos ou impressos, de fabricação catalã, italiana ou francesa, devido à baixa produção portuguesa e à qualidade, que deixava muito a desejar.

Apesar das vicissitudes por que passou, essa documentação chegou até nossos dias graças à resistência do papel de trapo, pois o que não foi sistematicamente eliminado sofreu armazenamento inadequado, recebendo a ação da umidade, da poeira e da oscilação da temperatura. Uma parte muito reduzida da documentação brasileira deixou de passar por pelo menos um desses inconvinientes.



[Extraído de: Silva, Edith Maria da. Conservação e restauração de livros e documentos. Disponível em: < http://www.fundap.sp.gov.br/publicacoes/cadernos/cad08/Fundap08/CONSERVACAO%20E%20RESTAURACAO%20DE%20LIVROS%20E%20DOCUMENTOS.pdf >. Acesso em 14 dez. 2009>.]

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